O Atlético-MG encerrou, nesta sexta-feira, a quarta passagem de Cuca pelo clube. A decisão saiu depois de uma reunião com o chefe de esportes, Paulo Bracks, e o diretor de futebol, Victor Bagy, na manhã de 29 de agosto de 2025. O estopim foi a derrota por 2 a 0 para o Cruzeiro, no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, somada a uma sequência instável no Brasileirão.
Os números contam parte da história. Em 2025, Cuca dirigiu o time em 47 partidas: 22 vitórias, 13 empates e 12 derrotas, aproveitamento de 56%. Conquistou o Campeonato Mineiro — o sexto estadual dele pelo clube —, mas não conseguiu manter a equipe competitiva no nacional. O Galo ocupa a 12ª posição com 24 pontos e vinha de três jogos sem vencer.
A derrota no clássico pesou ainda mais pelo contexto. Em mata-mata, perder por dois gols para o maior rival pressiona o vestiário, racha a confiança e acende a cobrança externa. Dirigentes vinham monitorando a oscilação, e declarações do técnico após o jogo, vistas internamente como intempestivas, aceleraram a decisão. Na despedida, no CT, Cuca apareceu com o braço imobilizado por causa de uma cirurgia no ombro, agradeceu ao elenco e disse compreender o movimento da diretoria diante do desempenho recente.
Mesmo com o fim amargo, a marca do treinador no Galo fica registrada. Em 292 partidas pelo clube, Cuca somou 157 vitórias, 68 empates e 67 derrotas. Levou a Libertadores de 2013, o Brasileiro de 2021, a Copa do Brasil de 2021 e quatro títulos mineiros (2012, 2013, 2021 e 2025). É o técnico mais vitorioso da história recente do Atlético. Isso explica por que a ruptura não foi simples. Mas também mostra o tamanho da responsabilidade quando a curva de desempenho cai.
Em campo, o time tinha dificuldade para sustentar boas sequências. Alternava jogos de imposição com partidas de pouca criatividade. Em alguns momentos, o meio-campo perdia intensidade na pressão pós-perda e a equipe demorava a recuperar a bola. No último terço, faltava mais mobilidade para abrir defesas fechadas. Os resultados apertados, quando não viravam vitória, viravam frustração — e a soma desses tropeços empurrou o Galo para a metade da tabela.
No vestiário, a sensação era de cansaço do ciclo. A rotina de trabalho de Cuca é conhecida por ser intensa, e isso funciona muito bem em fases de alta. Quando os resultados oscilam, o desgaste aparece mais rápido. O discurso do treinador, citando ausências de jogadores-chave nas últimas semanas, foi entendido por parte da torcida como justificativa; internamente, como um diagnóstico parcial de um problema maior: performance abaixo do que o elenco pode entregar.
Há também o impacto esportivo do clássico. Em rivalidades desse tamanho, um 2 a 0 no jogo de ida muda a temperatura. A segunda partida exige quase um jogo perfeito. Para quem dirige o clube, o risco de eliminação precoce em um torneio que paga bem e dá moral na temporada pesa no cálculo. E o Brasileirão, com o time no meio da tabela, acende o alerta para 2026: ficar fora da zona de classificação continental mexe no planejamento esportivo e financeiro.
Interinamente, quem assume é Lucas Gonçalves. Ele já comandou o Galo em seis jogos e tem 83% de aproveitamento, com cinco vitórias e uma derrota. No domingo, 31 de agosto, ele estará à beira do campo contra o Vitória, no Barradão, em Salvador. O foco imediato é simples e urgente: estabilizar a equipe, ajustar a compactação sem a bola e recolocar confiança nos homens de frente. Em jogos fora, o Atlético tem oscilado nas transições defensivas; corrigir espaçamentos e reduzir erros não forçados é prioridade para evitar mais uma rodada sem pontuar.
Lucas tende a mexer pouco para a estreia: costuma privilegiar uma saída de três na construção, com laterais em alturas diferentes e um meia mais livre entrelinhas. No ataque, a orientação é acelerar o primeiro passe após recuperar a bola, buscando diagonais curtas para quebrar a linha rival. Pode haver minutos para quem anda com menos ritmo, até para oxigenar a equipe antes da decisão na Copa do Brasil.
Paralelamente, a diretoria começou a buscar um substituto. Dois nomes despontam: Jorge Sampaoli e Luis Zubeldía. Sampaoli tem histórico recente no futebol brasileiro e uma passagem anterior pelo Atlético, em 2020. Seu modelo exige intensidade, pressão no campo adversário e laterais muito participativos. É um técnico de ideias fortes e manutenção de posse, que costuma elevar o piso de performance no curto prazo, mas demanda elenco adaptável e respaldo para mudanças rápidas de função.
Zubeldía, que deixou o São Paulo recentemente, carrega um perfil diferente: organização defensiva rigorosa, linhas próximas e ataque vertical, com muita leitura de espaço nas costas dos laterais adversários. Não é avesso a jogos de controle, mas convive bem com partidas de menor posse e alta eficiência. Em um elenco que alterna veteranos e jovens, sua gestão costuma dar clareza de papel e reduzir a margem de erro em jogos de pressão.
No cálculo da diretoria, pesam três pontos: identidade de jogo, tempo de adaptação e custo. O calendário aperta; o novo treinador precisa chegar e colocar ideias em prática sem longas pré-temporadas. Há ainda a questão contratual. O vínculo de Cuca ia até o fim de 2026, e a rescisão será ajustada no âmbito administrativo. Essa conta precisa caber no orçamento junto com a chegada de um novo técnico e eventuais mudanças na comissão.
Enquanto o nome não sai, o vestiário tenta virar a chave. O discurso é prático: recuperar solidez, vencer o jogo no Barradão e criar um ambiente competitivo para a volta da Copa do Brasil. O Atlético precisa reduzir erros em bola parada defensiva, um ponto que tirou pontos em jogos recentes, e melhorar a taxa de conversão no primeiro tempo. Jogar na frente no placar muda a dinâmica, dá segurança e evita que o adversário trave o jogo.
O clássico recente também deixou lições. No jogo de ida, o Cruzeiro encontrou espaços em transições e foi mais cirúrgico. Para o duelo de volta, o Galo terá de ajustar a pressão coordenada no portador da bola e proteger melhor a zona do rebote na entrada da área. Em mata-mata, pequenos detalhes — segunda bola, cobertura nos flancos, atenção ao lado cego — viram lances decisivos. O Atlético sabe disso, já viveu esse filme e pode usar a experiência para manter a eliminatória viva.
Seja quem for o novo técnico, o ponto de partida está claro. O elenco tem qualidade para competir acima da 12ª posição. Precisa de um plano de jogo estável, repetição e papéis bem definidos. Com calendário cheio, o treino invisível — sono, recuperação e nutrição — ganha peso. E o fator casa, que historicamente impulsiona o Galo, precisa voltar a se impor com volume, pressão e gol cedo para quebrar a resistência dos rivais que fecham as linhas no Independência ou na Arena MRV.
Os números que pautaram a decisão ajudam a dimensionar o momento:
Do lado humano, a saída de Cuca fecha um ciclo importante. O torcedor que vibrou com a Libertadores em 2013 e com o ano mágico de 2021 convive agora com uma transição que precisa ser bem conduzida. Futebol é sobre resultado, mas também sobre timing. O Atlético escolheu agir agora para tentar salvar a temporada. Resta saber quem vai liderar esse novo capítulo e como as primeiras decisões vão se traduzir em campo já nos próximos jogos.
Escrito por Aliny Fernandes
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