Legião da Boa Vontade divulga 'Matéria também é Espírito', ciência e fé em diálogo

Legião da Boa Vontade divulga 'Matéria também é Espírito', ciência e fé em diálogo

Quando José de Paiva Netto, presidente da Legião da Boa Vontade, apresentou o discurso Matéria também é EspíritoSão Paulo no Templo da Boa Vontade, o público recebeu uma mescla inesperada de filosofia, física e doutrina cristã. O evento, que aconteceu nesta quarta‑feira, buscou mostrar que matéria e espírito – tradicionalmente vistos como opostos – podem, na verdade, coexistir como duas faces de uma mesma realidade divina.

Contexto histórico da Legião da Boa Vontade

A Legião da Boa Vontade (LBV) surgiu em 1950, sob a liderança de Francisco Cândido Xavier, o famoso médium conhecido como Chico Xavier. Desde então, a instituição tem promovido projetos sociais, educacionais e, sobretudo, um ensino espiritual que tenta conciliar a fé cristã com as descobertas científicas. O discurso de 2025 remonta a um artigo publicado em Correio Braziliense em 29 de abril de 1993, escrito pelo próprio Paiva Netto, que já então defendia a ideia de que “a matéria é sagrada”.

O conteúdo do discurso

Dividido em três blocos principais, o pregador abordou:

  • Uma revisão filosófica a partir de Baruch Spinoza, o pensador holandês do século XVII, cujo conceito de “Deus ou Natureza” serve de base para o argumento de que tudo que existe tem uma essência divina.
  • Uma aplicação das teorias da física moderna, citando Albert Einstein e a equivalência massa‑energia (E=mc²) como prova de que a energia – que ele definiu como “espírito” – está presente em toda matéria.
  • Referências à literatura e à doutrina espírita, como o romance de Graham Greene e a obra psicografada por Chico Xavier, Mecanismos da Mediunidade, de André Luiz.

O ponto alto foi a frase‑chave – “She (a matéria) é Sagrada” – que, segundo o apresentador, tem respaldo direto nos ensinamentos de Jesus nos Evangelhos, especialmente em Mateus 6:33: “Mas buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”.

Fundamentos filosófico‑espirituais

Spinoza, citado como “autor de sistemas metafísicos abrangentes”, foi usado para desmontar a velha crença de que a matéria seria “inexplicável” ou “baixa”. O discurso destacou o trecho: “Ignoro porque a matéria deveria ser indigno da natureza divina… pois fora de Deus não pode existir substância dotada de natureza divina”. Essa citação foi reinterpretada como prova de que a própria substância material – o que chamamos de “matéria” – está imbuída de divindade.

O pregador também retornou ao conceito de “Matéria como Espírito” (espírito‑material), recorrendo à ideia de “matéria primordial” como a “energia divina que permeia o cosmos”. Essa interpretação, embora controversa, encontrou eco em seguidores que veem na física quântica uma abertura para novas leituras teológicas.

Conexões com a ciência contemporânea

Conexões com a ciência contemporânea

A referência a Einstein não ficou só no famoso equação. O discurso apontou que, segundo o físico, “nada restou do que se imaginava como concreto”; apenas a energia, “nome científico do Espírito”, permanece. Essa visão foi ampliada ao discutir o bóson de Higgs, descrito como “a partícula real de Deus” por Paiva Netto em seu livro Reflexões da Alma (2003). A ideia provocou risos e também perguntas sérias da plateia.

Além disso, foi mencionado que a física moderna descreve “múltiplas dimensões” onde diferentes graus de matéria são invisíveis aos sentidos humanos. Nessa linha, o discurso sugeriu que “Jesus e os profetas habitam essas esferas dimensionais, não vistas, mas presentes”. O uso de termos como “graduações de matéria” ecoou a teoria das cordas, embora sem aprofundamento técnico.

Reações dos participantes e de especialistas

Alguns membros da comunidade religiosa elogiaram a tentativa de “apontar a ciência como aliada da fé”. A jovem Ana Clara, de 28 anos, comentou: “É reconfortante ver que a ciência não é inimiga, mas pode nos mostrar a beleza da criação”. Já o professor de filosofia da Universidade de São Paulo, Marcos Toledo, trouxe cautela, ressaltando que “confluir conceitos de Spinoza, Einstein e doutrina espírita exige rigor metodológico que nem sempre é observado”.

O debate se estendeu à mídia local, com o portal Folha de São Paulo publicando uma coluna que classificou o discurso como “um híbrido entre teologia liberal e pseudo‑científica”. Ainda assim, a LBV manteve a posição de que a mensagem principal – a sacralidade da matéria – permanece válida independentemente das críticas.

Impacto e implicações sociais

Impacto e implicações sociais

Ao afirmar que a matéria tem valor sagrado, a LBV reforça sua agenda de preservação ambiental e de valorização do trabalho manual. Paiva Netto, em seu texto de 1993, já dizia que “a matéria deixará de ser obstáculo ao Espírito”. Essa visão pode influenciar projetos de sustentabilidade da organização, que já atua em reciclagem, agricultura familiar e educação ambiental.

Além disso, ao mesclar ciência e espiritualidade, o discurso abre espaço para novas colaborações entre universidades e institutos de estudo religioso. Há rumores de que a LBV está negociando um curso livre sobre “Física Quântica e Espiritualidade” com a Universidade Federal de Minas Gerais.

Próximos passos da Legião da Boa Vontade

O próximo grande evento será a inauguração, ainda prevista para 2026, do centro de estudos “Ciencia e Espírito”, que deverá contar com palestras mensais de especialistas em cosmologia, teologia e filosofia. Paiva Netto prometeu que o centro será “um território da ciência de Deus”, onde a população poderá “buscar respostas sem abandonar a fé”.

Enquanto isso, o Templo da Boa Vontade continuará a ser o ponto de encontro para quem deseja aprofundar a ideia de que “ser e existir são sinônimos de estar em comunhão com o divino”.

Perguntas Frequentes

Como o discurso de Paiva Netto relaciona ciência e espiritualidade?

Ele usa conceitos de Spinoza, Einstein e da física de partículas para afirmar que a energia – chamada de espírito – está presente em toda matéria. Assim, a ciência deixa de ser inimiga da fé e passa a ser uma ferramenta de compreensão da sacralidade material.

Qual é a relevância prática da ideia de que "a matéria é sagrada"?

Para a Legião, isso reforça programas de sustentabilidade, valorização do trabalho manual e projetos sociais que tratam o ambiente como parte da criação divina, incentivando atitudes mais responsáveis e ecológicas.

Quem são os principais influenciadores citados no discurso?

Baruch Spinoza, Albert Einstein, Graham Greene, Chico Xavier (via André Luiz), e o próprio José de Paiva Netto, que combina essas referências para construir a tese de unidade entre matéria e espírito.

Qual a reação da comunidade acadêmica ao discurso?

Há elogios por procurar pontes entre fé e ciência, mas também críticas sobre a falta de rigor metodológico ao fundir teorias quânticas com doutrinas religiosas, como apontou o professor Marcos Toledo da USP.

O que vem depois para a Legião da Boa Vontade?

A organização planeja abrir o centro de estudos “Ciência e Espírito” em 2026, promover cursos de física quântica aplicada à espiritualidade e continuar a difundir a mensagem de que a matéria, como parte da criação, merece reverência.

20 Comentários

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    vinicius alves

    outubro 7, 2025 AT 22:56

    O discurso parece uma colagem de terminologia metafísica, física quântica e teologia, tudo amarrado por uma narrativa que busca legitimar a sacralidade da matéria. A retórica se apoia em analogias forçadas, como a equivalência massa‑energia, para sustentar uma leitura espiritualizada da ciência. No fim, a proposta carece de rigor epistemológico, entregando‑se ao sentimentalismo ideológico.

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    Luciano Hejlesen

    outubro 8, 2025 AT 08:06

    Essa mistura de ciência e fé soa como um espetáculo de vaudeville pseudo‑acadêmico 😂🤦‍♂️

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    Mauro Rossato

    outubro 8, 2025 AT 19:13

    Mano, esse papo de matéria ser sagrada parece mais um rolê de festival cósmico do que coisa séria, mas tem quem curta essa vibe mística.

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    Tatianne Bezerra

    outubro 9, 2025 AT 06:20

    Chega de desculpas, vamos abraçar a ideia de que toda forma física tem valor divino e transformar isso em ação concreta para salvar o planeta agora!

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    Ademir Diniz

    outubro 9, 2025 AT 17:26

    Boa iniciativa, se a galera enxergar a matéria como algo sagrado, talvez a gente cuide melhor da natureza e do trabalho manual.

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    Luziane Gil

    outubro 10, 2025 AT 04:33

    Adorei a mensagem de união entre ciência e espiritualidade, dá uma esperança de que podemos conciliar conhecimento e fé.

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    Cristiane Couto Vasconcelos

    outubro 10, 2025 AT 15:40

    Material sagrado, energia divina, tudo interligado

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    Deivid E

    outubro 11, 2025 AT 02:46

    Mais um discurso cheio de frases de efeito sem fundamento científico real

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    Túlio de Melo

    outubro 11, 2025 AT 13:53

    Se considerarmos Spinoza, a divindade já está imersa na substância que chamamos de matéria

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    Jose Ángel Lima Zamora

    outubro 12, 2025 AT 01:00

    É imperativo salientar que a tentativa de amalgamar conceitos da física contemporânea com dogmas espiritualistas carece de substancial embasamento metodológico, sob pena de degenerar em pseudo‑ciência.

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    Debora Sequino

    outubro 12, 2025 AT 12:06

    Ah, claro!!! Porque nada diz "ciência rigorosa" como citar o bóson de Higgs como "partícula real de Deus" - que maravilha de profundidade!!!

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    Fellipe Gabriel Moraes Gonçalves

    outubro 12, 2025 AT 23:13

    Eu acho q a ideia tem potencial, mas falta explicação mais clara pra galera que não é da área.

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    Rachel Danger W

    outubro 13, 2025 AT 10:20

    Vocês já pararam pra pensar que essa mistura de ciência e religião pode ser um plano secreto das elites para manipular a percepção pública e controlar recursos ambientais?

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    Davi Ferreira

    outubro 13, 2025 AT 21:26

    Vamos aproveitar essa mensagem e transformar nossas ações diárias em um verdadeiro culto à terra e à vida.

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    Marcelo Monteiro

    outubro 14, 2025 AT 08:33

    Quando leio o discurso, não consigo deixar de notar o quão extravagante é tentar fundir Einstein com a doutrina espírita sem sequer compreender as nuances de cada campo de estudo. Primeiro, a equivalência massa‑energia, que é um princípio da física, é reinterpretada como "espírito", o que revela uma leitura metafórica sensacionalista. Segundo, a referência ao bóson de Higgs como "partícula de Deus" ignora o contexto matemático e experimental que sustenta sua descoberta. Terceiro, a citação de Spinoza, embora pertinente, é usada para validar uma agenda institucional que visa reforçar a imagem da LBV como ponte entre ciência e fé. Além disso, a ausência de qualquer discussão crítica sobre a metodologia científica demonstra um desrespeito ao rigor acadêmico. Também é notável como o discurso se apoia em frases de impacto, como "She (a matéria) é Sagrada", para gerar emoção em vez de argumentação lógica. Não podemos esquecer que o público mencionado inclui jovens e acadêmicos que podem ser facilmente influenciados por tais declarações simplistas. A tentativa de legitimar projetos de sustentabilidade com base em conceitos espirituais pode, paradoxalmente, reduzir a eficácia das políticas públicas ao substituir evidências por crenças. Ainda assim, alguns participantes acharam o discurso reconfortante, o que indica o poder persuasivo de uma narrativa bem trabalhada, mesmo que falha em conteúdo. Também há quem critique a falta de profundidade ao abordar teorias avançadas como a teoria das cordas, reduzindo‑as a meros adereços retóricos. O fato de que a LBV pretende abrir um centro de estudos "Ciência e Espírito" levanta questões sobre a qualidade acadêmica que será oferecida. É imprescindível que tais iniciativas sejam acompanhadas por pesquisadores sérios, caso contrário, corremos o risco de propagar desinformação. Em resumo, a proposta, embora bem‑intencionada, padece de uma série de inconsistências que precisam ser endereçadas se quiser ganhar legitimidade no meio científico. Por fim, cabe à comunidade acadêmica manter um olhar crítico e exigir que tais diálogos sejam baseados em evidências robustas e no respeito mútuo entre as disciplinas. Somente assim poderemos transformar entusiasmo em conhecimento sólido.

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    Jeferson Kersten

    outubro 14, 2025 AT 19:40

    É evidente que a argumentação apresentada carece de fundamentação empírica e, portanto, não pode ser considerada rigorosamente científica.

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    Jeff Thiago

    outubro 15, 2025 AT 06:46

    Concordo que o discurso apresenta lacunas metodológicas; contudo, é preciso reconhecer que a tentativa de síntese pode estimular reflexões interdisciplinares, desde que acompanhada de supervisão acadêmica adequada.

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    Circo da FCS

    outubro 15, 2025 AT 17:53

    Mas onde está a revisão por pares realmente?

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    Savaughn Vasconcelos

    outubro 16, 2025 AT 05:00

    Ah, a eterna busca pelo “peer review” nas cartas de fé – uma comédia que ecoa nos corredores das universidades e dos templos ao mesmo tempo!

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    Rafaela Antunes

    outubro 16, 2025 AT 16:06

    Realmentoo, aquele drama todo parece mais um teatro de sombras que um debate serio.

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