Seis bandeiras vermelhas, chuva intermitente e muita pista fria: o treino classificatório em Baku virou uma loteria, e mesmo assim Gabriel Bortoleto saiu com a sensação de que não havia mais o que arrancar do carro. O brasileiro de 20 anos vai largar em 13º no GP do Azerbaijão de 2025 e foi direto ao ponto: “não tinha muito mais para tirar”. Em um traçado que costuma premiar motor forte, baixa resistência ao ar e confiança na freada, a Sauber ficou curta.
O cenário ajuda a explicar o desfecho. Em Baku, o trecho de aceleração plena é enorme e o vácuo costuma decidir detalhes. Com a pista mudando de condição a cada saída de box por causa da garoa, o aquecimento de pneus virou drama para metade do grid. Nesse xadrez, quem acertou a janela de temperatura ganhou tempo “de graça”. Bortoleto até se colocou na briga para a Q3, mas faltou ritmo puro, especialmente nas trocas rápidas de direção do segundo setor e na tração de baixa.
A leitura interna da equipe foi semelhante. O pacote para Baku não entregou o que a engenharia esperava, e a comparação com o outro lado da garagem reforça o quadro: Nico Hülkenberg sai em 17º. Em treinos tão bagunçados, a disparidade entre companheiros costuma diminuir; quando ela aparece, é um sinal de que o conjunto está aquém. Para o brasileiro, que estreia na F1 depois de conquistar a Fórmula 3 em 2023 e liderar a Fórmula 2 em 2024, o dia serviu mais como sobrevivência do que como avanço técnico.
Há também a curva de adaptação. Guiar no limite entre os muros de Baku exige tempo de reação e leitura fina do vento lateral nas retas, além de confiança no momento de abrir a asa. Quem está no primeiro ano paga esse pedágio em centésimos que, somados, te jogam para fora da Q3. Bortoleto vem administrando esse processo com disciplina, mas quando o carro não ajuda, o teto de performance aparece cedo.
Mesmo com a classificação indigesta, o domingo não está perdido. Baku é território fértil para Safety Car, bandeira vermelha e estratégia fora do script. A chance de pontuar a partir do 13º lugar é real se a Sauber acertar o plano e os pit stops forem limpos. O consumo de freios e a gestão de pneus no primeiro stint costumam decidir a vida de quem larga no meio do pelotão.
Há algumas cartas na manga. Largar com pneus mais duros para alongar o trecho inicial pode abrir espaço para um undercut poderoso quando a pista evoluir e o tráfego começar a travar ritmo. Em caso de Safety Car no terço final, um jogo de pneus mais macio vira convite para atacar. O risco é ficar preso atrás de carros com maior velocidade de reta, algo comum em Baku quando o DRS cria trens longos. A execução nas voltas de saída de box será crítica.
No panorama maior, o fim de semana também passa pelo futuro da equipe. A Sauber atravessa um ciclo de transição que culmina com a entrada da Audi como operação de fábrica em 2026. Até lá, o desafio é equilibrar o desenvolvimento do carro atual com o investimento em base técnica e processos. Em pistas de baixa carga e alta velocidade como Baku, qualquer perda de eficiência aerodinâmica aparece sem misericórdia. Por isso, a equipe tem priorizado soluções que melhorem estabilidade em frenagens e a sensibilidade do assoalho às mudanças de altura, pontos que afetam diretamente o ganho nas retas.
Para o torcedor brasileiro, ver Bortoleto em ação já tem um peso simbólico: é o primeiro representante em temporada completa desde 2017. Ele sabe que o jogo, por enquanto, é de regularidade e boas decisões. Baku cobra caro qualquer excesso, mas também recompensa quem se mantém vivo até o fim. Se o time entregar uma corrida limpa, com paradas rápidas e leitura fria de estratégias, os pontos estão à distância de uma janela de Safety Car.
O recado do sábado foi claro: o limite do carro apareceu cedo e a classificação ficou onde dava para ficar. O recado do domingo pode ser outro. Em Baku, paciência, pneus na janela certa e um pouco de timing costumam virar resultado.
Escrito por Aliny Fernandes
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