Comércio do centro de Feira de Santana fica fechado nos feriados de 15 e 20 de novembro

Comércio do centro de Feira de Santana fica fechado nos feriados de 15 e 20 de novembro

Enquanto shoppings e bairros de Feira de Santana se preparam para o movimento dos feriados, o centro da cidade — coração comercial há mais de oitenta anos — permanecerá silencioso nos dias 15 e 20 de novembro de 2025. A decisão, confirmada na primeira reunião da Convenção Coletiva 2025-2026 realizada em 4 de novembro, foi tomada após intensas negociações entre o Sindicato Empresarial do Comércio de Feira de Santana (Sicomércio) e o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Feira de Santana. O resultado? Nenhum avanço na liberação do comércio central. E isso, para muitos empresários, é um golpe duro em um momento em que o e-commerce cresce sem parar.

Uma decisão que divide o comércio

Marco Antônio Silva, presidente do Sicomércio, que representa mais de 3.500 estabelecimentos, foi claro: "Feira de Santana enfrenta, como todo comércio físico, a forte concorrência do comércio eletrônico, que funciona todos os dias, sem interrupções, e praticamente não gera emprego ou arrecadação local." Ele não escondeu a frustração. "Nós defendemos que o centro também possa funcionar para preservar os postos de trabalho, mas não houve sensibilidade por parte do sindicato dos comerciários neste momento."

Na mesa, os trabalhadores — representados por cerca de 45.000 pessoas — mantiveram a posição histórica: feriados são dias de descanso. E não é só por tradição. É por direito. A convenção coletiva, vigente desde 2010, garante folga compensatória ou indenização para quem trabalha em shoppings e bairros — locais onde o funcionamento é permitido. O que muda? Nada. Ainda que o cenário tenha se transformado.

Quem ganha e quem perde com o fechamento

Enquanto os pequenos comerciantes do centro, muitos com lojas de 20 a 30 metros quadrados, se veem obrigados a fechar as portas, os shoppings Shopping Boulevard Feira e Feira 4 preparam promoções que, segundo dados históricos do Sicomércio, aumentam o fluxo de consumidores em 25% a 30%. É uma desigualdade clara. Um vendedor de roupas na Avenida Presidente Dutra perde um dia de vendas que poderiam ser 20% do seu faturamento mensal. Já o supermercado dentro do shopping, com estacionamento, ar-condicionado e promoções em massa, vende como se fosse um fim de semana prolongado.

Os dados do IBGE de 2024 mostram que Feira de Santana tem 619.039 habitantes — o segundo maior município da Bahia. O PIB da cidade é o quinto do estado. Mas o comércio do centro, que já foi o principal motor, hoje luta para não desaparecer. "É como se a cidade tivesse duas economias: uma que respira, e outra que só aguenta o ar que sobra", disse uma comerciante de calçados, que preferiu não se identificar.

Um cenário nacional em miniatura

Um cenário nacional em miniatura

Essa disputa não é exclusiva de Feira de Santana. Em Salvador, Recife e Belo Horizonte, sindicatos patronais já tentaram, sem sucesso, flexibilizar o fechamento em feriados. Mas aqui, o movimento é mais intenso. O comércio eletrônico no Brasil cresceu 18,7% ao ano nos últimos três anos, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOM). Enquanto isso, o faturamento do varejo físico no centro de Feira de Santana caiu 14% entre 2020 e 2024 — um declínio que não se resume à pandemia.

Os empresários argumentam que o fechamento não protege o trabalhador — ele apenas o isola. "Se o comerciante não vende, ele demite. Se ele demite, o trabalhador perde o emprego. E aí, quem protege quem?", questiona Silva. A resposta do sindicato dos trabalhadores é simples: "Não se protege o emprego abrindo portas em feriados. Se protege o emprego com salário digno, jornada equilibrada e direitos garantidos."

O que vem a seguir?

Uma nova rodada de negociações está marcada para 11 de novembro de 2025 — apenas quatro dias antes do primeiro feriado. É pouco tempo. Mas o Sicomércio insiste: "O comércio de Feira de Santana precisa continuar forte, e buscamos sempre soluções que preservem empregos e mantenham o equilíbrio nas relações de trabalho."

Se nada mudar, o centro da cidade entrará em seu 15º ano consecutivo sem funcionar nos feriados da Proclamação da República e do Dia da Consciência Negra — duas datas que, por sinal, têm grande peso simbólico. O primeiro, em 15 de novembro, celebra a fundação da república; o segundo, em 20 de novembro, homenageia Zumbi dos Palmares e a luta contra o racismo. Fechar as portas nesses dias é, para muitos, uma forma de respeito. Para outros, é um sacrifício econômico que já dura demais.

Um centro que não quer desaparecer

Um centro que não quer desaparecer

Na Avenida Presidente Dutra, onde o Sicomércio tem sede desde 1938, lojas que já foram referência — de tecidos a eletrodomésticos — hoje têm vitrines vazias. Alguns proprietários estão vendendo os imóveis. Outros, fechando as lojas para trabalhar online. A transformação é silenciosa, mas profunda. O que antes era um centro movimentado, com filas nas padarias e barulho de caixas registradoras, hoje tem o silêncio de quem espera por uma mudança que parece nunca vir.

Ainda assim, há esperança. A nova convenção termina em 2026. E os empresários já começam a mobilizar os consumidores. "Vamos pedir às pessoas que, nos dias 14 e 19, comprem o que precisam. Porque no dia 15 e 20, o centro não vai abrir. Mas a gente ainda está aqui. E não vamos desistir", diz um comerciante de 68 anos, que abriu a loja da família em 1982.

Frequently Asked Questions

Por que o comércio do centro de Feira de Santana não pode abrir nos feriados, mas os shoppings podem?

A Convenção Coletiva 2025-2026 estabelece regras específicas para diferentes tipos de estabelecimentos. Lojas em shoppings e bairros têm permissão legal para funcionar, desde que paguem folga compensatória ou indenização. Já o centro da cidade, historicamente, mantém o fechamento por acordo coletivo desde 2010. O sindicato dos trabalhadores defende que essa regra protege o direito ao descanso, enquanto os empresários argumentam que a desigualdade prejudica os pequenos comerciantes.

Quais são os feriados envolvidos e por que eles são importantes?

Os feriados são 15 de novembro (Proclamação da República, Lei nº 662/1949) e 20 de novembro (Dia da Consciência Negra, Lei nº 12.519/2011). Ambos são nacionais e têm grande relevância histórica e cultural. O primeiro marca a fundação da república brasileira; o segundo homenageia Zumbi dos Palmares e a resistência negra. Para muitos, manter o fechamento nesses dias é um gesto de respeito, mesmo que economicamente desafiador.

Como o comércio eletrônico influencia essa decisão?

O e-commerce cresceu 18,7% ao ano no Brasil nos últimos três anos, segundo a ABCOM. Enquanto as lojas online operam 24/7, o comércio físico do centro de Feira de Santana perde vendas em dias cruciais. Empresários alegam que isso desestimula o consumo local e reduz arrecadação de impostos. Mas o sindicato dos trabalhadores afirma que o e-commerce não garante direitos iguais — e que não se pode abrir mão da proteção laboral em nome da concorrência.

O que os trabalhadores ganham se trabalharem nos feriados?

Quem trabalha em shoppings ou bairros durante os feriados tem direito a folga compensatória em outro dia ou à indenização de um dia de salário, conforme a CLT e a convenção coletiva. Isso é obrigatório. O valor é calculado com base no salário diário, mais 100% de adicional. Muitos trabalhadores preferem a folga, mas há casos em que a indenização é mais vantajosa, especialmente para quem tem despesas fixas.

Existe alguma chance de mudança antes dos feriados de novembro?

Uma nova reunião está marcada para 11 de novembro de 2025, apenas quatro dias antes do primeiro feriado. Embora seja um prazo apertado, o Sicomércio espera pressionar os sindicatos com apoio de comerciantes e consumidores. Mas sem consenso, a regra atual permanece. Ainda assim, a pressão pública e a mobilização nas redes sociais têm gerado atenção nacional — algo que pode influenciar as negociações futuras.

Como essa decisão afeta a economia local?

O fechamento do centro reduz a circulação de dinheiro na região central, onde o comércio é mais diversificado e menos concentrado. Enquanto os shoppings absorvem 70% do consumo nos feriados, o centro perde até 20% do faturamento mensal nesses dias. Isso impacta diretamente pequenos fornecedores, transportadores e até serviços como lavanderias e oficinas. A longo prazo, pode acelerar a desertificação do centro, já que lojas não conseguem manter a rentabilidade.

1 Comentários

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    Francini Rodríguez Hernández

    novembro 11, 2025 AT 01:18

    serio que ainda ta fechado? isso é loucura no 2025, todo mundo compra online e o centro morre devagar... eu já comprei tudo no shoppin e tô vendo loja vazia na dutra, que tristeza

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