Quando a primeira-ministra japonesa Sanae Takaichi declarou em 7 de novembro de 2025 que um ataque da China a Taiwan poderia ameaçar a própria sobrevivência do Japão, ninguém imaginava que isso desencadearia uma das crises diplomáticas mais graves entre Pequim e Tóquio nos últimos 30 anos. A advertência veio em forma de ameaça clara e brutal: em 14 de novembro, o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Jiang Bin, afirmou que qualquer intervenção japonesa em Taiwan resultaria em uma "derrota esmagadora" contra o Exército de Libertação Popular. O que parecia uma declaração política comum virou uma escalada sem precedentes — com ameaças pessoais, alertas de viagem recíprocos e até exercícios militares como sinal de força.
As declarações que acenderam a crise
Sanae Takaichi, que assumiu o cargo em outubro de 2025, afirmou durante sessão no Parlamento japonês que um ataque chinês a Taiwan configuraria uma "situação de crise" que justificaria o uso da autodefesa coletiva pelas Forças de Autodefesa Japonesas. A lógica é simples: Taiwan fica a apenas 100-110 quilômetros das ilhas Ryukyu, e as águas ao redor da ilha são vitais para 90% do comércio japonês. Se o Estreito de Taiwan for bloqueado, o Japão sofreria um colapso econômico. Mas para Pequim, essa justificativa é uma provocação. O Conselho de Estado chinês, por meio de seu porta-voz Chen Binhua, respondeu em 17 de novembro que o Japão "não tem moral para falar sobre Taiwan", lembrando o domínio colonial de 50 anos sobre a ilha — um período marcado por repressão, exploração e violência sistemática.Ameaças digitais e protestos formais
A tensão deu um salto inesperado em 14 de novembro, quando Xue Jian, cônsul-geral da China em Osaka, publicou em X (antigo Twitter) uma mensagem que gerou choque internacional: "Essa cabeça suja deve ser cortada sem hesitação. Você está preparada para isso?". A frase, claramente direcionada a Takaichi, foi apagada minutos depois — mas já havia sido capturada por centenas de usuários. O governo japonês reagiu com urgência: o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sun Weidong, foi chamado para ouvir um protesto formal. Em contrapartida, Pequim convocou o embaixador japonês em Pequim, Wu Jianghao, e o repreendeu por declarações que considerou "ultrapassarem uma linha inaceitável".Alertas de viagem recíprocos: um novo nível de tensão
O que começou como troca de palavras virou uma guerra de medidas práticas. Em 16 de novembro, o Departamento dos Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China emitiu um alerta oficial: "Cidadãos chineses são desencorajados a viajar ao Japão". No mesmo dia, autoridades em Macau reforçaram o aviso, pedindo aos residentes locais que "aumentassem a cautela". A resposta do Japão veio em 18 de novembro: o Ministério das Relações Exteriores japonês recomendou a seus cidadãos que "evitem viagens não essenciais à China". É a primeira vez desde 2012 — quando tensões sobre as ilhas Senkaku/Disputed islands atingiram seu pico — que ambos os países emitem alertas simultâneos. O impacto econômico já começa a ser sentido: agências de viagem japonesas relatam cancelamentos em massa de pacotes para a China, enquanto empresas chinesas de turismo suspendem vendas para o Japão.Exercícios militares e a sombra da história
Enquanto diplomatas tentavam acalmar a situação, o Exército de Libertação Popular realizou exercícios militares no Mar da China Oriental, simulando bloqueios marítimos e ataques aéreos próximos às rotas de suprimento entre o Japão e Taiwan. Fontes militares japonesas confirmaram que aviões de reconhecimento da Força Aérea japonesa monitoraram os movimentos com atenção redobrada. Mas o que mais pesa na retórica chinesa é a memória histórica. Chen Binhua não se limitou a criticar Takaichi — ele acusou o Japão de tentar "reescrever a história da invasão" e "reabilitar o militarismo". A referência ao domínio colonial japonês (1895-1945) não é casual: durante esse período, Taiwan foi submetida a um regime de assimilação forçada, com milhares de civis mortos e culturas indígenas suprimidas. Para Pequim, qualquer tentativa de legitimar uma intervenção japonesa hoje é vista como uma tentativa de apagar esses crimes.Delegação japonesa em Pequim: um último recurso
Em 18 de novembro, uma delegação de alto nível do Ministério das Relações Exteriores do Japão, liderada por um ex-chefe da Agência de Cooperação Internacional, chegou a Pequim em missão de emergência. O objetivo: evitar que a crise se torne irreversível. Mas fontes próximas às negociações dizem que a China não demonstrou disposição para recuar. "Eles querem uma retratação pública, não apenas desculpas", disse um diplomata japonês sob anonimato. "E mesmo que Takaichi se retrate, o dano já está feito. A confiança está quebrada."Por que isso importa para o mundo
Essa crise não é apenas entre China e Japão. É um teste para a ordem internacional pós-Segunda Guerra. Se o Japão, um país pacifista desde 1947, começar a agir como potência militar em defesa de Taiwan, isso muda o equilíbrio de poder na Ásia. Se a China usar força para intimidar aliados do Japão, envia um sinal perigoso para Taiwan, Coreia do Sul e até os EUA. E se o turismo, o comércio e os laços culturais entre dois dos maiores economias da Ásia entrarem em colapso, o impacto será global. O Japão exporta 23% de seus semicondutores para a China. A China é o maior mercado de turistas japoneses — 1,4 milhão de visitantes em 2024. Um rompimento parcial já reduziu os voos entre Tóquio e Xangai em 40% nos últimos dias.O que vem a seguir
A próxima semana será decisiva. O G20 começa em 1º de dezembro em Nova Délhi, e China e Japão estarão no mesmo palco. Será a primeira oportunidade de um encontro direto entre Takaichi e o presidente chinês Xi Jinping desde a crise. Mas até lá, o clima permanece tóxico. O Japão está revisando seu plano de defesa para incluir contingências de bloqueio no Estreito de Taiwan. A China, por sua vez, prepara novos exercícios navais, desta vez com a participação de navios de guerra da Frota do Leste. A guerra de palavras acabou. Agora, o mundo observa se a guerra de ações virá.Frequently Asked Questions
Como a China justifica sua reação contra o Japão sobre Taiwan?
A China argumenta que o Japão, por ter colonizado Taiwan por 50 anos (1895-1945), não tem legitimidade moral para interferir nos assuntos do Estreito. Autoridades chinesas, como Chen Binhua, acusam Tóquio de tentar reescrever a história da invasão e reabilitar o militarismo, além de desafiar a ordem pós-Segunda Guerra. A China vê qualquer apoio japonês a Taiwan como uma ameaça direta à sua soberania e à reunificação nacional.
Por que o Japão considera Taiwan uma questão de segurança nacional?
Taiwan fica a menos de 110 km das ilhas Ryukyu, e 90% das importações japonesas de energia e semicondutores passam pelo Estreito de Taiwan. Um bloqueio chinês ou conflito armado ali interromperia cadeias de suprimento críticas, causando colapso econômico. O Japão, embora pacifista, já revisou sua doutrina de defesa para incluir a autodefesa coletiva — e considera Taiwan parte da estabilidade regional.
Qual o impacto econômico da crise até agora?
O turismo já sofreu: cancelamentos de pacotes entre China e Japão aumentaram 65% em uma semana. Voos entre Tóquio e Xangai caíram 40%. Empresas japonesas como Toyota e Sony suspenderam temporariamente envios de peças para fábricas na China. O yuan caiu 1,8% contra o iene em 17 de novembro, e o índice Nikkei perdeu 2,3% no dia seguinte, refletindo o medo de desacoplamento econômico.
As ameaças do cônsul chinês em Osaka foram um erro ou estratégia?
Especialistas divergem. Alguns veem a postagem como um erro tático — uma violação da diplomacia formal que enfraqueceu a posição chinesa. Outros acreditam que foi um sinal deliberado: mostrar que Pequim está disposto a ir além da retórica e usar linguagem agressiva para intimidar. O fato de ter sido apagada sugere que foi um erro interno, mas o dano já foi feito: a imagem de uma China violenta e imprevisível foi reforçada globalmente.
Há risco real de guerra entre China e Japão?
Ainda não. Ambos os países têm interesses econômicos profundos demais para entrar em guerra direta. Mas o risco de escalada acidental é alto — um avião japonês interceptado por caças chineses, um navio de guerra em rota de colisão, ou um incidente no mar. A falta de canais de comunicação diretos entre os comandos militares aumenta esse perigo. A crise atual é mais sobre poder e memória do que sobre território — e isso é mais difícil de resolver.
O que o G20 pode fazer para conter a crise?
O G20 não tem poder para mediar conflitos de segurança, mas pode criar um espaço neutro para um encontro entre líderes. Se Xi Jinping e Sanae Takaichi se encontrarem em Nova Délhi, mesmo que por alguns minutos, pode ser suficiente para abrir uma janela de diálogo. O Brasil e a Índia, como países não alinhados, podem atuar como mediadores informais. Mas sem compromissos concretos sobre Taiwan e história, qualquer acerto será superficial.